AUTOR DESCONHECIDO

Texto escrito por Martha Medeiros e blog em seu blog.

AUTOR DESCONHECIDO


Em quem te inspiras para escrever? Quem é tua referência literária? Qual o escritor que mais admiras?
São perguntas que me fazem a todo instante. Eu já citei muitos autores que me encantam: Verissimo, Adriana Lunardi, Adélia Prado, Cintia Moscovitch, Daniel Galera, Fabricio Carpinejar, pra citar apenas alguns brasileiros. Mas pra quem tiro o chapéu, mesmo, é para o autor desconhecido.
Disparado, é quem mais produz literatura no país. O autor desconhecido já poderia ter lançado uma centena de best sellers. Mas é modesto, não faz sessões de autógrafos, não dá entrevistas, ninguém nunca viu seu rosto, é mais recluso que o Rubem Fonseca - outro autor que admiro um bocado.
O autor desconhecido não se dedica a um único gênero: ele é o que chamam por aí de multifacetado. Escreve poemas, piadas, crônicas, aforismos. Em geral, textos curtos. Mas já escreveu um romance também. Chama-se Teresa Filósofa, uma obra do século XVIII editada pela L&PM, com uma capa ao mesmo tempo chique e erótica, onde se lê, além do título, o nome do autor: "desconhecido". Soube pelo google (que está exterminando com os desconhecidos) que o romance atualmente é atribuído ao senhor Jean Baptiste de Boyer, o marquês d´Argens, que viveu de 1704 a 1771 e de quem, humildemente, nunca ouvi falar (o "atribuído" também é versátil, faz de tudo o tal sujeito: versos bons, versos ruins, frases originais, frases melosas, letras de música, slogans publicitários e propaganda política. Tudo foi atribuído a ele, que, até segunda ordem, não tem culpa de nada).
O autor desconhecido talvez seja um homem rico, mas não porque ganhe milhões com direito autoral, ao contrário: ele não deve ganhar nada em direitos, já que ninguém sabe qual é a sua editora e muito menos qual o número da sua conta no banco. Talvez ele seja bem posto na vida porque é um arquiteto famoso, ou um médico famoso, ou um empresário famoso. Mas em nenhum outro setor ele aparece tanto como no da literatura. É um onipresente. Virou, mexeu, estamos recebendo um texto dele pela internet.
Já cometi essa gafe uma vez: passei adiante um texto assinado pelo Autor Desconhecido. Que roubada. Acharam que o texto era meu e propagaram mundo afora o que eu jamais tinha escrito. Nunca mais cometerei esse equívoco. Longe de mim ocupar espaço tão honroso como o do autor desconhecido, esse que é o mais célebre entre os anônimos.

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