QUASE METADE DE TRINTA
Quatorze anos era a idade que eu tinha
quando dei meu primeiro beijo. Treze anos e nove meses, treze anos e
meio, quase quatorze anos, sim quatorze, melhor arredondar, os
números cortados são estranhos.
É de se estranhar que eu também
trabalhei na empresa que estou até hoje pelo mesmo período, as
histórias se repetem.
Vida corrida, sem tempo para fazer o que
se gosta, o que acha importante. Talvez você saiba o que é isto.
Pessoas que eram importantes para você no início saíram da sua
vida, outras apareceram e tomaram conta do seu coração e
preencheram o vazio que por muito tempo caminhou ao seu lado.
Caminhos que mesmo de olhos vendados
você já sabia o destino. Engraçado pensar que passou rápido, não
é clichê, passou rápido. Não parece que foram quase metade de 30
anos lutando por algo que eu já sabia que não seria alcançado. É
impossível batalhar por algo que nem a pessoa que deveria ser a mais
interessada dê valor, se importe com a sua essência, com a sua
marca, deixando assim com que outros sejam a referência de mercado.
As coisas foram acontecendo
naturalmente, algumas ao longo dos anos deixadas de lado, mas somente
aquelas que não eram importantes. Eu sempre contava histórias
porque tentava impressionar e cativar quem deixasse, não podia
perder a oportunidade de vender o que mais sabia.
Sempre me senti atraída por pessoas, e
não é toa que um certo dia fui abordada por uma jornalista quando
havia acabado de sair do cursinho e pude fazer uma pergunta para o
Parreira, na época ele era técnico da seleção brasileira e
apareci no Esporte Espetacular, com a pergunta mais medíocre que
pudesse existir. Mas a pergunta não era minha, era da repórter, eu
apenas repeti o que foi proposto. Eu não botava fé que iria ao ar,
mas foi. Provavelmente seja por isto que uma cliente me reconheceu e
quis saber dias depois se a entrevista havia sido gravada na loja.
Outros também me reconheceram, até os concorrentes quase pediram o
meu autógrafo, um momento de fama, uma experiência interessante.
Divã a distância, telefone, whatssap,
viva a tecnologia. Muitas tentativas de conseguir melhorias para quem
realmente precisava de atenção. Todos sabem que tentei mais do que
pude. Não é fácil mudar algo que não pode ser alterado nem uma
vírgula, espaço e ponto. Cada coisa no seu quadrado, senão haverá
multa.
Anos sem faltas e nulos atrasos. Anos
sabendo o que devia e não deveria ser feito. Anos sendo a Caxias.
Agora, bate uma aflição, uma insegurança, pois não sei qual
caminho seguir. Um é mais prático, o outro requer mais
desprendimento e dedicação por inteiro.
Anos deixando de lado seus sonhos, os
quais você não se recorda mais. Da próxima vez, lembre-se de
anotá-los. Recomece do zero. Dá para recomeçar do três? Seria
mais fácil pegar o trem em movimento.
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